30 dezembro 2013

Poema



      CANÇÃO GRATA

   Por tudo o que me deste:
- Inquietação, cuidado,(um pouco de ternura?
  É certo, mas tão pouco!)
  Noites de insónia, pelas ruas, como um louco...
- Obrigado, obrigado!

Por aquela tão doce e tão breve ilusão,
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!

Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
- Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado...
Sem ironia, amor: - Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!

Carlos Queirós
1907-1949

                                

09 dezembro 2013

          
                     

       RECUSA

Quando mergulho no lago
Que vejo no teu olhar,
Vou suplicando um afago
Que te recusas a dar.


Percebo angústias passadas
Nesse olhar distante e vago,
E agito as águas paradas
Quando mergulho no lago


Procuro em ti a ternura
Que já deixaste secar
E perco-me na lonjura
Que vejo no teu olhar.


De sempre me olhares sem ver,
A mágoa em meu peito trago.
Antes de tudo perder
Vou suplicando um afago.


Meu coração não se cansa
De tanto te mendigar,
A derradeira esperança
Que te recusas a dar.

(Orlando Fernandes in Fronteiras do Sonho)