PABLO NERUDA ODE À CEBOLA Cebola, luminosa redoma, pétala a pétala formou-se a tua formosura, escamas de cristal te acrescentaram e no segredo da terra sombria arredondou-se o teu ventre de orvalho. Sob a terra deu-se o milagre e quando apareceu teu rude caule verde, e nasceram as tuas folhas como espadas no horto a terra acumulou seu poderio mostrando a tua nua transparência, e como em Afrodite o mar distante duplicou a magnólia levantando-lhe os seios, a terra fez-te assim, cebola, clara como um planeta, e destinada a reluzir, constelação constante, redonda rosa de água, sobre a mesa dos pobres. Generosa desfazes teu globo de frescura na consumação fervente do cozido, e o girão de cristal ao calor inflamado do azeite transforma-se em ondulada pluma de ouro. Recordarei também como a tua influência fecunda o amor da salada e parece que contribui o céu dando-te a fina forma do granizo a celebrar a tua luz picada sobre os hemisférios de um tomate. Mas ao alcance das mãos do povo, regada com azeite, polvilhada com um pouco de sal, matas a fome do jornaleiro no duro caminho. Estrela dos pobres, fada madrinha envolta em delicado papel, tu sais do solo, eterna, intacta, pura como semente de astros, e ao cortar-te a faca de cozinha sobe a única lágrima sem mágoa. Fizeste-nos chorar mas sem sofrer. Tudo o que existe celebrei, cebola, mas para mim és mais formosa que um pássaro de plumas ofuscantes, és para os meus olhos globo celeste, taça de platina, baile imóvel de anémona nevada e a fragância da terra inteira vive na tua natureza cristalina. (tradução de José Bento, in Antologia de Pablo Neruda, editorial Inova, 1973 - As mãos e os frutos) |
14 agosto 2011
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