Reserva Natural do Estuário do Sado
A
Reserva Natural do Estuário do Sado é constituída por uma sucessão de
água de rio e de água de mar, bancos de areia e de vasa, praias, dunas e
sapais.
Esta constitui um ecossistema rico e produtivo ao qual se encontram associadas uma flora e fauna diversas.
O
rio Sado nasce na serra da Vigia, a sueste de Ourique, e percorre 180
km de margens mais ou menos planas, desembocando no oceano, entre o
Outão e a ponta de Troia.
Golfo profundo, o estuário do Sado
corresponde atualmente à vasta superfície de águas que vai da foz do rio
até sensivelmente Alcácer do Sal, onde a influência das marés perde a
sua força. As águas do rio, salvo em épocas de cheia acentuada, pouco
influenciam a circulação geral do estuário.
O relevo que circunda o
estuário é de muito pequena altitude. Os pontos mais altos sobem acima
dos 30 m de altura - o outeiro Alto, na margem direita, atinge os 36
metros, enquanto que na Malha da Costa, 24 metros, é o ponto mais
elevado da margem sul -, a contrastar de forma evidente com a Arrábida
que está próxima.
No que diz respeito à flora aquícola, esta pode ser
encontrada no parcel ou morraçal - depósito de lodos onde cresce uma
vegetação típica dominada pela morraça, que lhe dá o nome, e banhada
pelas marés mais altas - e no sapal - terrenos salgados de aluvião
cobertos por uma vegetação rasteira.
Há ainda a referir as
superfícies lodosas sem vegetação, onde se implantaram os bancos de
bivalves, nomeadamente berbigão e navalha, e onde também é praticada a
colheita de poliquetas.
Comporta, Carrasqueira, Monte Novo de Palma,
Foicinhas, Herdade do Pinheiro e Monte das Cabras constituem as maiores
manchas de sapal do estuário do Sado, áreas naturais ocupadas por
gramíneas e arbustos halofíticos de pequeno porte, situados ao longo de
massas de água salgada cujo nível varia de acordo com as marés. A
morraça domina nas zonas onde o grau de salinidade é maior.
As
plantas que se desenvolvem nas dunas constituem um outro elemento de
grande importância. Na realidade, a península de Troia, uma das
principais estruturas dunares do litoral, alberga, a par de largas
dezenas de espécies vegetais mais vulgares, alguns endemismos
portugueses, ibéricos e europeus. Assim, desde a zona da praia, na
pré-duna, até ao flanco continental da duna primária sucedem-se as
espécies adaptadas às areias marítimas como é o caso do estorno, do
cordeiro-da-praia e do feno-das-praias entre outras. Mais para o
interior, encontram-se os montados - o sobreiro e as associações onde
domina esta árvore representam o habitat dominante na zona terrestre da
Reserva Natural.
Nas linhas de água existentes em redor do estuário
surgem as matas ribeirinhas, em que se pode observar espécies como o
amieiro, o freixo, o ulmeiro e o salgueiro, enquanto o junco e a
tamargueira surgem nas zonas onde ocorre água salobra. Finalmente, são
ainda observáveis no estuário do Sado um ou outro caniçal, sobretudo na
orla das linhas de água e lagoas, se bem que os caniçais estejam em
regressão, devido sobretudo à expansão da orizicultura.
O estuário
alberga uma grande variedade de peixes, moluscos e crustáceos. Assim, na
fauna ictiológica podem-se referir o salmonete, o linguado, a tainha, a
solha, a dourada, o charroco, entre aproximadamente 70 espécies
presentes e que estão na origem da atividade dos portos piscatórios da
Gâmbia e da Carrasqueira. Há ainda cefalópodes, como o polvo, o choco e a
lula, crustáceos, como o caranguejo e a camarinha, bem com diferentes
amêijoas. De entre todas as espécies animais presentes no Sado o
ruaz-corvineiro é, sem dúvida, aquela que mais atrai as atenções. Estes
animais constituem uma colónia de aproximadamente 40 indivíduos, que
percorrem as águas marinhas entre o Tejo e o Sado e que, neste último
estuário, possuem o seu principal local de alimentação.
No que diz
respeito à avifauna, são dois os locais que mais particularmente atraem a
atenção: a ilha do Cavalo e o açude da Murta. A primeira é uma área
relativamente vasta de lezíria e cultura arvense, com numerosos charcos e
pequenas manchas de vegetação palustre, onde nidificam, entre outras
espécies, o perna-longa, a perdiz-do-mar e a alvéola-amarela, sendo
refúgio para várias outras espécies de limícolas e anatídeos. O açude da
Murta, se bem que se trate de uma área adjacente ao estuário, é charco
natural de água doce rodeado por uma charneca de matos espinhosos e
pinhal, cuja localização permite às espécies que nela nidificam um
intercâmbio com as margens lodosas do estuário onde procuram alimento. O
açude, para além de albergar uma grande colónia de garças -
garça-branca, garça-boieira, garça-vermelha e goraz -, é também ponto de
refúgio para alguns anatídeos como o pato-real e o marrequinho. Também
várias espécies de passeriformes - felosa-real,
rouxinol-pequeno-dos-caniços ou bico-de-lacre - habitam nos caniçais,
enquanto as aves de presa encontram habitat favorável na zona da Herdade
do Pinheiro, que apresenta um substrato ecológico diversificado.
Gineta,
saca-rabo e lontra são alguns dos mamíferos presentes na periferia do
estuário, não se podendo deixar de referir a população de gamos nos
terrenos da Herdade do Pinheiro.
As salinas do Sado ainda hoje ocupam
uma extensa área ao longo das margens do estuário, entre a Mitrena e o
Pontal, na margem norte, e entre a Rapa e Montevil, na margem sul.
O
sal de Setúbal sempre teve fama de ser dos melhores, devido
fundamentalmente à ausência de sais magnesianos. O sal necessitou sempre
de ser transportado para o exterior dos salgados que o produziam e uma
das formas mais fáceis de o fazer foi, desde sempre, a utilização da via
fluvial. A última embarcação concebida no estuário do Sado para
desempenhar tal papel foi o "galeão do sal", hoje desaparecido,
adaptação de uma outra embarcação que o precedeu, o "galeão de carga".
Por
fim o moinho de Maré das Mouriscas representa um último testemunho de
uma época em que a importância das energias renováveis, neste caso a
energia das marés, era por de mais evidente.