20 janeiro 2012

José Régio - Soneto quase inédito






Soneto quase inédito

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam -os fantoches em São Bento
 o Decreto da fome é publicado

Edita -se a novela do Orçamento
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do parlamento
Usufruem seis contos de ordenado

E enquanto á fome o povo se estiola,
Certo Santo pupilo de Loyola
 Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno" sacrificio"
De trinta contos-Só- por seu ofício
Receber,a bem dele-e da nação

José Régio soneto escrito em 1969, no dia
no dia de uma reunião de antigos alunos.

10 janeiro 2012

Fernando Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 Lisboa, 30 de novembro de 1935)



Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...


(Fernando Pessoa)

05 janeiro 2012

A cor do horto gráfico
já aprovado pelo novo Ministro do saber


Última atualização do dicionário de língua portuguesa

Novas entradas:
Testículo: Texto pequeno
Abismado: Sujeito que caiu de um abismoPressupor: Colocar preço em alguma coisaBiscoito: Fazer sexo duas vezesCoitado: Pessoa vítima de coitoPadrão: Padre muito altoEstouro: Boi que sofreu operação de mudança de sexoDemocracia: Sistema de governo do infernoBarracão: Proíbe a entrada de caninosHomossexual: Sabão em pó para lavar as partes íntimasMinistério: Aparelho de som de dimensões muito reduzidas

Detergente: Acto de prender seres humanosEficiência: Estudo das propriedades da letra FConversão: Conversa prolongadaHalogéneo: Forma de cumprimentar pessoas muito inteligentesExpedidor: Mendigo que mudou de classe social
Luz solar: Sapato que emite luz por baixo
Cleptomaníaco: Mania por Eric ClaptonTripulante: Especialista em salto triploContribuir: Ir para algum lugar com vários índiosAspirado: Carta de baralho completamente malucaAssaltante: Um 'A' que saltaDetermine: Prender a namorada do Mickey Mouse
Vidente: Aquilo que o dentista diz ao paciente
Barbicha: Bar frequentado por gays
Ortográfico: Horta feita com letras
Destilado: do lado contrário a esse
Pornográfico: O mesmo que colocar no desenho
Coordenada: Que não tem cor
Presidiário: Aquele que é preso diariamente
Ratificar: Tornar-se um rato
Violentamente: Viu com lentidão


E

Língua "perteguesa"... PORQUE O SABER NÃO OCUPA LUGAR!

Prontus
Usar o mais possível. É só dar vontade e podemos sempre soltar um 'prontus'! Fica sempre bem.


Númaro

Também com a vertente 'númbaro'. Já está na Assembleia da República uma proposta de lei para se deixar de utilizar a palavra NÚMERO, a qual está em claro desuso. Por mim, acho um bom númaro!
Pitaxio
Aperitivo da classe do 'mindoím'.


Aspergic

Medicamento português que mistura Aspegic com Aspirina

Alevantar
O acto de levantar com convicção, com o ar de 'a mim ninguém me come por parvo!... alevantei-me e fui-me embora!'.


Amandar

O acto de atirar com força: 'O guarda-redes amandou a bola para bem longe'


Assentar

O acto de sentar, só que com muita força, como fosse um tijolo a cair no cimento.


Capom

Tampa de motor de carros que quando se fecha faz POM!


Destrocar

Trocar várias vezes a mesma nota até ficarmos com a mesma.


Disvorciada

Mulher que se diz por aí que se vai divorciar.


É assim...

Talvez a maior evolução da língua portuguesa. Termo que não quer dizer nada e não serve para nada. Deve ser colocado no início de qualquer frase. Muito utilizado por jornalistas e intelectuais.


Entropeçar

Tropeçar duas vezes seguidas.


Êros

Moeda alternativa ao Euro, adoptada por alguns portugueses.


Falastes, dissestes...

Articulação na 4ª pessoa do singular.
Ex.: eu falei, tu falaste, ele falou, TU FALASTES...

Fracturação

O resultado da soma do consumo de clientes em qualquer casa comercial. Casa que não fractura... não predura.


Há-des

Verbo 'haver' na 2ª pessoa do singular: 'Eu hei-de cá vir um dia; tu há-des cá vir um dia...'


Inclusiver

Forma de expressar que percebemos de um assunto. E digo mais: eu inclusiver acho esta palavra muita gira. Também existe a variante 'Inclusivel'.



A forma mais prática de articular a palavra MEU e dar um ar afro à língua portuguesa, como 'bué' ou 'maning'. Ex.: Atão mô, tudo bem?


Nha

Assim como Mô, é a forma mais prática de articular a palavra MINHA. Para quê perder tempo, não é? Fica sempre bem dizer 'Nha Mãe' e é uma poupança extraordinária.


Parteleira

Local ideal para guardar os livros de Protuguês do tempo da escola.


Perssunal

O contrário de amador. Muito utilizado por jogadores de futebol. Ex.: 'Sou perssunal de futebol'. Dica: deve ser articulada de forma rápida.


Prutugal

País ao lado da Espanha. Não é a Francia.


Quaise

Também é uma palavra muito apreciada pelos nossos pseudo-intelectuais... Ainda não percebi muito bem o quer dizer, mas o problema deve ser meu.


Stander

Local de venda. A forma mais famosa é, sem dúvida, o 'stander' de automóveis. O 'stander' é um dos grandes clássicos do 'português da cromagem'...


Tipo

Juntamente com o 'É assim', faz parte das grandes evoluções da língua portuguesa. Também sem querer dizer nada, e não servindo para nada, pode ser usado quando se quiser, porque nunca está errado, nem certo. É assim... tipo, tás a ver?


Treuze

Palavras
para quê? Todos nós conhecemos o númaro treuze.

02 janeiro 2012


Natal dos sem abrigo

-Poema de Fernando Pessoa
Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade !
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei !
NATAL
Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.
Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.
Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.
Manuel Alegre

18 dezembro 2011

Cesária Évora

Cesária Évora (Mindelo, 27 de agosto de 1941 — Mindelo, 17 de Dezembro de 2011), também conhecida como «a diva dos pés descalços», foi a cantora de maior reconhecimento internacional de toda história da música popular cabo-verdiana. Apesar de ser sucedida em diversos outros géneros musicais, Cesária Évora foi maioritariamente relacionada com a morna, por isso também foi por vezes apelidada "rainha da morna.


Cesária Évora (1941 - 2011) na cidade de Mindelo, em Cabo Verde. Tinha mais quatro irmãos. O seu pai Justino da Cruz tocava cavaquinho, violão e violino. Quando jovem foi viver com sua avó, que havia sido educada por freiras, e assim acabou passando por uma experiência que a ensinou a desprezar a moralidade excessivamente severa.
Entre os seus amigos estava B. Leza, o compositor favorito dos cabo-verdianos, que faleceu quando ela tinha apenas sete anos de idade. Desde cedo, Cise, como era conhecida pelos amigos, começou a cantar e a fazer actuações aos domingos na praça principal da sua cidade, acompanhada pelo seu irmão Lela, no saxofone. Mas a sua vida está intrinsecamente ligada ao bairro do Lombo, nas imediações do quartel do exército português, onde cantou com compositores como Gregório Gonçalves. Aos 16 anos, Cesária começou a cantar em bares e hotéis e, com a ajuda de alguns músicos locais, ganhou maior notoriedade em Cabo Verde, sendo proclamada a "Rainha da Morna" pelos seus fãs.
Aos vinte anos foi convidada a trabalhar como cantora para o Congelo - companhia de pesca criada por capital local e português -, recebendo conforme as actuações que fazia. Em 1975, ano em que Cabo Verde adquiriu a independência, Cesária, frustrada por questões pessoais e financeiras, aliados à dificuldade económica e política do jovem país, deixou de cantar para sustentar sua família. Durante este período, que se prolongou por dez anos, Cesária teve de lutar contra o alcoolismo. Igualmente, Cesária chamou a esse período de tempo, os seus Dark Years.
A casa de Cesária Évora
Encorajada por Bana (cantor e empresário cabo-verdiano radicado em Portugal), Cesária Évora voltou a cantar, actuando em Portugal. Em Cabo Verde um francês chamado José da Silva persuadiu-a a ir para Paris e lá acabou por gravar um novo álbum em 1988 "La diva aux pied nus" (a diva dos pés descalços) - que é como se apresenta nos palcos. Este álbum foi aclamado pela crítica, levando-a a iniciar a gravação do álbum "Miss Perfumado" em 1992. Desde então fixou residência na capital francesa. Cesária tornou-se uma estrela internacional aos 47 anos de idade.
Em 2004 conquistou um prémio Grammy de melhor álbum de world music contemporânea. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, distinguiu-a, em 2009, com a medalha da Legião de Honra entregue pela ministra da Cultura francesa Christine Albanel.[2]
Em Setembro de 2011, depois de cancelar um conjunto de concertos por se encontrar muito debilitada, a sua editora, Lusafrica, anunciou que a cantora pôs um ponto final na sua longa carreira.
Veio a falecer no dia 17 de Dezembro de 2011, com 70 anos, por "insuficiência cardiorrespiratória aguda e tensão cardíaca ele
Discografia

  1. 1965 - Mornas de Cabo-Verde & Oriondino (vinil simple, 45 RPM, C. Évora & Conjunto)
  2. 1987 - Cesária
  3. 1988 - Cesária Évora, La Diva aux pieds nus
  4. 1990 - Distino di Belita
  5. 1991 - Mar Azul
  6. 1992 - Miss Perfumado
  7. 1994 - Sodade - Les plus belles mornas de Cesaria (Best of)
  8. 1995 - Cesária
  9. 1995 - Cesária Évora à L'Olympia
  10. 1997 - Cabo Verde
  11. 1998 - Best of Cesária Évora
  12. 1998 - Nova Sintra
  13. 1999 - Le monde de Cesária Évora
  14. 1999 - Café Atlântico
  15. 2001 - Cesária Évora : L'essentiel
  16. 2001 - São Vicente di Longe
  17. 2002 - Anthology
  18. 2002 - Anthologie: Mornas & Coladeras (LP duplo)
  19. 2002 - The Very Best of Cesária Évora
  20. 2003 - Voz d'Amor
  21. 2004 - Les essentiels
  22. 2006 - Rogamar
  23. 2008 - Rádio Mindelo
  24. 2009 - Nha sentimento
DVD
  1. 2002 - Live in Paris
Duos
  1. 1999 - É doce morrer no mar (por Dorival Caymmi) cantado com Marisa Monte.
  2. 2009 - Capo Verde terra d'amore, vol. 1 (LP, cantado com Teofilo Chantre em italiano)
Outras colaborações
  1. 1995 - Sangue de Beirona Remix (por François K)
  2. 1999 - Césaria Evora Remix (por François K e Joe Claussell)
  3. 2003 - Carnaval de São Vivente Remix (EP)
  4. 2003 - Club Sodade Remixes, Cesaria Evora by… (Carl Craig, Francois Kervorkian, Kerri Chandler, Four Hero, Señor Coconut, etc.)

Referências

  1. Morreu cantora Cesária Évora
  2.  Cesaria Evora termina a carreira aos 70 anos.
WIKIPÉDIA

24 novembro 2011



   Um homem com gripe

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão-de-ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

António Lobo Antunes

21 novembro 2011

Rio Sado

Reserva Natural do Estuário do Sado

A Reserva Natural do Estuário do Sado é constituída por uma sucessão de água de rio e de água de mar, bancos de areia e de vasa, praias, dunas e sapais.
Esta constitui um ecossistema rico e produtivo ao qual se encontram associadas uma flora e fauna diversas.
O rio Sado nasce na serra da Vigia, a sueste de Ourique, e percorre 180 km de margens mais ou menos planas, desembocando no oceano, entre o Outão e a ponta de Troia.
Golfo profundo, o estuário do Sado corresponde atualmente à vasta superfície de águas que vai da foz do rio até sensivelmente Alcácer do Sal, onde a influência das marés perde a sua força. As águas do rio, salvo em épocas de cheia acentuada, pouco influenciam a circulação geral do estuário.
O relevo que circunda o estuário é de muito pequena altitude. Os pontos mais altos sobem acima dos 30 m de altura - o outeiro Alto, na margem direita, atinge os 36 metros, enquanto que na Malha da Costa, 24 metros, é o ponto mais elevado da margem sul -, a contrastar de forma evidente com a Arrábida que está próxima.
No que diz respeito à flora aquícola, esta pode ser encontrada no parcel ou morraçal - depósito de lodos onde cresce uma vegetação típica dominada pela morraça, que lhe dá o nome, e banhada pelas marés mais altas - e no sapal - terrenos salgados de aluvião cobertos por uma vegetação rasteira.
Há ainda a referir as superfícies lodosas sem vegetação, onde se implantaram os bancos de bivalves, nomeadamente berbigão e navalha, e onde também é praticada a colheita de poliquetas.
Comporta, Carrasqueira, Monte Novo de Palma, Foicinhas, Herdade do Pinheiro e Monte das Cabras constituem as maiores manchas de sapal do estuário do Sado, áreas naturais ocupadas por gramíneas e arbustos halofíticos de pequeno porte, situados ao longo de massas de água salgada cujo nível varia de acordo com as marés. A morraça domina nas zonas onde o grau de salinidade é maior.
As plantas que se desenvolvem nas dunas constituem um outro elemento de grande importância. Na realidade, a península de Troia, uma das principais estruturas dunares do litoral, alberga, a par de largas dezenas de espécies vegetais mais vulgares, alguns endemismos portugueses, ibéricos e europeus. Assim, desde a zona da praia, na pré-duna, até ao flanco continental da duna primária sucedem-se as espécies adaptadas às areias marítimas como é o caso do estorno, do cordeiro-da-praia e do feno-das-praias entre outras. Mais para o interior, encontram-se os montados - o sobreiro e as associações onde domina esta árvore representam o habitat dominante na zona terrestre da Reserva Natural.
Nas linhas de água existentes em redor do estuário surgem as matas ribeirinhas, em que se pode observar espécies como o amieiro, o freixo, o ulmeiro e o salgueiro, enquanto o junco e a tamargueira surgem nas zonas onde ocorre água salobra. Finalmente, são ainda observáveis no estuário do Sado um ou outro caniçal, sobretudo na orla das linhas de água e lagoas, se bem que os caniçais estejam em regressão, devido sobretudo à expansão da orizicultura.
O estuário alberga uma grande variedade de peixes, moluscos e crustáceos. Assim, na fauna ictiológica podem-se referir o salmonete, o linguado, a tainha, a solha, a dourada, o charroco, entre aproximadamente 70 espécies presentes e que estão na origem da atividade dos portos piscatórios da Gâmbia e da Carrasqueira. Há ainda cefalópodes, como o polvo, o choco e a lula, crustáceos, como o caranguejo e a camarinha, bem com diferentes amêijoas. De entre todas as espécies animais presentes no Sado o ruaz-corvineiro é, sem dúvida, aquela que mais atrai as atenções. Estes animais constituem uma colónia de aproximadamente 40 indivíduos, que percorrem as águas marinhas entre o Tejo e o Sado e que, neste último estuário, possuem o seu principal local de alimentação.
No que diz respeito à avifauna, são dois os locais que mais particularmente atraem a atenção: a ilha do Cavalo e o açude da Murta. A primeira é uma área relativamente vasta de lezíria e cultura arvense, com numerosos charcos e pequenas manchas de vegetação palustre, onde nidificam, entre outras espécies, o perna-longa, a perdiz-do-mar e a alvéola-amarela, sendo refúgio para várias outras espécies de limícolas e anatídeos. O açude da Murta, se bem que se trate de uma área adjacente ao estuário, é charco natural de água doce rodeado por uma charneca de matos espinhosos e pinhal, cuja localização permite às espécies que nela nidificam um intercâmbio com as margens lodosas do estuário onde procuram alimento. O açude, para além de albergar uma grande colónia de garças - garça-branca, garça-boieira, garça-vermelha e goraz -, é também ponto de refúgio para alguns anatídeos como o pato-real e o marrequinho. Também várias espécies de passeriformes - felosa-real, rouxinol-pequeno-dos-caniços ou bico-de-lacre - habitam nos caniçais, enquanto as aves de presa encontram habitat favorável na zona da Herdade do Pinheiro, que apresenta um substrato ecológico diversificado.
Gineta, saca-rabo e lontra são alguns dos mamíferos presentes na periferia do estuário, não se podendo deixar de referir a população de gamos nos terrenos da Herdade do Pinheiro.
As salinas do Sado ainda hoje ocupam uma extensa área ao longo das margens do estuário, entre a Mitrena e o Pontal, na margem norte, e entre a Rapa e Montevil, na margem sul.
O sal de Setúbal sempre teve fama de ser dos melhores, devido fundamentalmente à ausência de sais magnesianos. O sal necessitou sempre de ser transportado para o exterior dos salgados que o produziam e uma das formas mais fáceis de o fazer foi, desde sempre, a utilização da via fluvial. A última embarcação concebida no estuário do Sado para desempenhar tal papel foi o "galeão do sal", hoje desaparecido, adaptação de uma outra embarcação que o precedeu, o "galeão de carga".
Por fim o moinho de Maré das Mouriscas representa um último testemunho de uma época em que a importância das energias renováveis, neste caso a energia das marés, era por de mais evidente.


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15 novembro 2011


       Ser feliz
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

(Fernando Pessoa)

11 novembro 2011

O Genoma Humano

DNA
Célula

 O Genoma Humano:

A abertura do livro da vida

A publicação das duas primeiras análises da seqüência do genoma humano contém revelações inesperadas, mas se trata apenas do começo das tentativas de decifrar este manual de instruções do homem. Em um assunto tão importante, que passou do silêncio dos laboratórios ao primeiro plano da atenção pública, o leigo precisa entender um pouco do vocabulário para saber do que está falando.
 
O que é um genoma?

É a soma de genes que define como se desenvolve e como funciona um ser vivo. É seu manual de instruções. O genoma é transmitido, com variações individuais, de geração em geração e determina a espécie do ser vivo. Neste programa genético se encontram gravadas nossas características hereditárias encarregadas de dirigir o desenvolvimento biológico de cada indivíduo.
As doenças hereditárias também estão escritas no genoma. Todos os seres vivos, desde os maiores, como o elefante e a baleia, até os minúsculos, como as bactérias, além de plantas, árvores e, claro, o ser humano, têm genoma. A metade do genoma que se herda provêm do macho e a outra metade, da fêmea. Assim se reconstrói a árvore genealógica de todo ser vivo e a herança recebida de seus antepassados aparece no genoma de cada ser. O genoma está escrito na linguagem química do ácido desoxiribonucleico (DNA).
Onde se encontra o genoma?
Cada ser vivo é composto de célula. Cada célula, que é como uma esfera de 0,01 mm de diâmetro, contém em seu núcleo duas metades, a materna e a paterna, do genoma do indivíduo. No ser humano se encontram 23 pares de cromossomos, cada um composto de uma molécula comprida, enrolada em forma de hélice dupla.
Como surge um novo genoma?
Um novo genoma se origina pela fecundação, durante a reprodução. As células sexuais, diferentemente de todas as outras, têm apenas metade do genoma do indivíduo. Essa metade não é nem masculina nem feminina, mas uma combinação delas. Para isso, os órgãos reprodutores do organismo adulto combinam aleatoriamente partes do genoma de sua metade masculina com partes de sua metade feminina, em um processo diferente das outras células do corpo, gerando assim células sexuais.

No ser humano, as combinações possíveis são da ordem de 3 bilhões elevados ao quadrado. A probabilidade de repetir uma combinação é praticamente nula. Cada célula sexual de um mesmo indivíduo leva uma seqüência única, que nunca se formou antes e, depois, jamais voltará a forma-se.
Como se desenvolve o novo genoma?
O novo genoma é totalmente autosuficiente em seu desenvolvimento, e só precisa se alimentar. Imediatamente depois da fecundação, começa o desenvolvimento celular dirigido pelo genoma. A primeira célula já contém todo o material genético capaz de formar o novo ser. A partir daí, surge, em poucas horas, uma cópia completa de seu genoma e se formam duas células, cada uma com essa cópia. O processo se repete sucessivamente, passando de 4 para 8 células e assim por diante até cerca de cem células, todas iguais.

Estas células ainda não se diferenciaram, ou seja, ainda não têm uma função específica. Ainda que todas as células de um indivíduo tenham o mesmo genoma, uma vez que o programa tenha definido e que cada célula fará no organismo adulto, não há mais caminho de volta - embora pesquisas recentes para clonar tecidos adultos tenha conseguido uma reprodução limitada de células já diferenciadas.


Por isso, no DNA, alguns genes se manifestam e outros se calam para sempre. O que se conhece é apenas por que mecanismos isso ocorre. A partir deste ponto, cada célula começa um caminho distinto segundo o desenvolvimento diferenciado do programa genético. Algumas delas darão origem à pele, outras ao intestino e outras ao cérebro, por exemplo.
Como é o desenvolvimento do ser humano?
No ser humano, um mês depois da fecundação, é possível comprovar como bate o coração e circula o sangue, a formação dos olhos, a medula espinhal, os pulmões, o estômago e os intestinos. Neste momento, a mãe começa a suspeitar da gravidez por causa da ausência de menstruação. Com 40 dias de vida, já é possível até fazer um eletrocardiograma no embrião. Pouco depois, um eletroencefalograma detectará atividade elétrica no seu cérebro.

Dez dias depois, já são perceptíveis as impressões digitais, que ficarão gravadas para sempre e diferenciarão este indivíduo de milhões de seus semelhantes. São claramente visíveis os olhos, orelhas e o nariz. Os lábios se abrem e fecham. Com dois meses de gestação, todos os sistemas do corpo estão funcionando, e o feto mede 4 cm e pesa 4 gramas. A partir daí, ele apenas aumenta de tamanho até cerca de 22 anos de idade.
Cada genoma é único?
Das centenas de espermatozóides que tentam entrar no óvulo, o primeiro que consegue atravessar a membrana provoca uma mudança que a reforça e evita que outro espermatozóide consiga fazer o mesmo. Desta maneira, o organismo assegura que o novo genoma tem sua origem na fusão de apenas uma cópia materna e uma cópia paterna.
Os gêmeos têm o mesmo genoma?
A regra da irrepetibilidade do ser vivo em relação aos seus semelhantes tem uma exceção na natureza: os gêmeos. Ele se originam de apenas um genoma, quando as células se dividiram e têm a capacidade de gerar um ser vivo completo. São clones naturais.
Sua separação pode ocorrer por uma pressão mecânica, por exemplo, e assim surgem dois seres com o mesmo genoma. Este fato natural, bem conhecido, pode ser reproduzido em laboratório com o objetivo de gerar cópias idênticas de um ser: réplicas clonadas.
Tão parecidos e tão diferentes
· 99.8% dos dados genéticos são comuns a todas as pessoas. Para a genética, não faz sentido falar em raças. Mas esse 02% supõe cerca de 6 milhões de diferenças, cujas combinações são matematicamente suficientes para moldar seres muitos diferentes.

· A estrutura genética de cada indivíduo é única e peculiar, exceto nos gêmeos e nos que não apresentam diferenças em seu genoma. Porém, não deixam de ser duas pessoas diferentes.
97% do genoma humano não exerce nenhuma função aparentemente conhecida. Há uma grande quantidade de informações no genoma que não serão genes. Supõe-se que essa grande maioria de informações sirva de elemento de controle para a expressão dos genes onde e quando necessitem.


Fonte: INTERPRENSA