05 março 2011

São Romão do Sado







 ANÁLISE DA FECUNDIDADE ILEGITIMIDADE NA FREGUESIA DE SÃO ROMÃO DO Sado ENTRE 1679 – 1729    

"ILHADE PRETOS"
Maria Raquel R. Gomes

São Romão do Sado
 É actualmente uma pequena aldeia com cerca de 35 habitantes. Localizada na área margeada pelo Sado e encontra-se a 15 km da sede do concelho, Alcácer do Sal. Percorrendo as suas ruas (bem como a da
aldeia mais próxima- Rio de Moinhos) é fácil identificar traços negróides nalguns moradores: cabelo encarapinhado, pele muito morena, lábios grossos, nariz largo...O interesse histórico por este tema tem motivado estudos científicos em diversas áreas, tornando-se apaixonante sobretudo para aqueles que, tal como eu, desde berço vão ouvindo histórias e lendas sobre essas gentes, cujo sangue ainda corre nas veias de muitos de nós. De facto, em Alcácer do Sal é bem conhecida a existência dos "Pretos de S. Romão que, fruto da miscigenação, se misturaram com a população branca se espalharam, naturalmente, por toda a região.José Leite de Vasconcelos, na sua obra Etnografia Portuguesa faz a Seguinte descrição: Ultimamente tive ocasião de ver alguns exemplares dos mesmos Mulatos.Eles próprios dizem que são atravessados, isto é, “mestiços", em sentido geral.  A cor varia: há indivíduos que são, por assim dizer, pálidos ou morenos,e outros  muito fosco, quase pretos. Os vizinhos chamavam dantes a esta gente Pretos do Sado ou Pretos de São Romão, porque havia lá realmente muitos pretos.julga-se que o fraco povoamento do Alentejo e a necessidade de mão-de-obra para os trabalhos agrícolas terão sido a causa da fixação do colonato de escravos. Não se sabe, ao certo, que tipo de culturas se faziam na altura. Se o Alentejo era considerado o celeiro do reino, muito provavelmente predominava   também aqui o cultivo dos cereais: trigo, centeio, cevada, aveia. A utilização destes cereais como provimento nas viagens marítimas (para o fabricodo biscoito) fomentou, na época, o aumento da sua produção. Em paralelo, terão existido actividades pecuárias,principalmente de gado suinícola, tiragem de cortiça e apanha de bolota. Quanto ao arroz, cultura que hoje  predomina na região, não existem provas de que já fosse cultivado nos séculos  XVI . Sabe-se que a entrada deste cereal no reino remonta à época das Descobertas .Contudo, se ele aqui foi introduzido de imediato não o sabemos. Mas Pedro Muralha, nas Monografias Alentejanas, descreve que nos finais do século XIX, Manuel Rosa Dourado adquiriu naquela parte do Sado uma grande porção de terrenos ainda por arrotear, isto é, terras virgens, cobertas de matos e que até ali era terra sem valor algum económico. Foi ele,com José Maria dos Santos e o velho Lince que desenvolveram em Portugal a cultura do arroz, e essa cultura é também hoje, uma grande fonte de riqueza pública. Os terrenos a que Pedro Muralha se refere são a Herdade da Quinta de Cima, muito próximo de São Romão, e faz-nos supor que só no século XIX se iniciou a produção intensiva do arroz. Desconheço, até à data, quaisquer documentos que possam esclarecer os reais motivos da sua fixação e o modo como aqui chegaram ou quaisquer outros pormenores que elucidassem sobre os seus costumes e a forma como se,integraram na comunidade (aculturação). De qualquer modo, volvidos mais de três séculos, a memória popular, sempre curta para guardar factos históricos, apenas fez perdurar a lenda da "Ilha de Pretos=  e as cantigas que ainda hoje ecoam ao ritmo do Ladrão.

Quem quezerver moças Da cordo cravão, Vá dar um passeio Ató S. Romão.

Veja o nosso Sado, Não tenha receio, Até São Romão Vá dar um passeio.

Quando eu chegui À Rebêra do Sado Vi lá uma preta De beco virado.

Se tiver resposta Responda-me à letra De beco virado Vi lá uma preta.

O Senhor dos Mártires Cá da Carvalheira É o pai dos pretos De toda a Ribeira.

Lavrador João Quem lho diz sou eu: Se ele é pai dos Pretos Também o é seu.
Continua=

04 março 2011

Origem da fruta (lenda Neengatu) -

Origem da fruta (lenda Neengatu) 

  No início do mundo, os homens comiam as mesmas coisas que os animais: capim, ervas, e folhas verdes. De vez em quando, o vento espalhava na terra um delicioso cheiro de fruta e todos que sentiam desejavam comê-las. Certa vez, um índio estava cuidando de sua roça quando encontrou um grande rato, o guabiru, comendo as plantas. Ele agarrou o guabiru e logo sentiu nele o cheiro bom. Então, fez uma proposta: "Se me mostrar onde está a árvore em que comes, eu não te mato. E poderás voltar sempre à minha roça." O guabiru levou o índio até a fruteira grande e disse: "Aquela grande árvore está cheia de frutas boas que só o acutipuru aproveita." O homem correu para casa, anunciou a novidade e toda gente se juntou para derrubar a árvore. Assim o acutipuru (esquilo) não acabaria com os frutos. Quando os machados abatiam o tronco, ouviu-se a voz irritada de Uansquém, o dono da árvore, dizendo: "Quem foi o tolo que indicou a utilidade desta fruteira? Isto ainda não está maduro!" Debaixo da árvore, ele encontrou casca de mandioca com marcas de dente do acutipuru. Depois ce matar o esquilo, Uansquém disse: "Tu, grande tolo, estragaste as frutas para todos. Deixa estar! Tua espécie e essas gentes hão de ter fome um dia e só então hão de ver que eles próprios se desgraçaram por suas mãos." E desapareceu. Com a madrugada que raiava, toda gente veio para perto da árvore e ali ficou por umas mãos de lua, até que o tronco desabasse. Assim que ele caiu, os homens se precipitaram para tirar as frutas: mandioca, batata, cará, abiu, cucura. Os pássaros também vieram e começaram a beliscar o bacaba, o açaí, o muriti, o inajá, e patauá, o carana. Depois, os outros animais tiraram uxi, cumaru, o resto que havia. No fim, apareceu o tapir, que só encontrou macucu. E assim foi que o avô do acutipuru conseguiu estragar a nossa existência e o nosso pomar. Se não fosse ele, teríamos sempre frutas boas, frutas doces e fáceis. Porque todas haviam de amadurecer e, então, Uansquém, que era bom e puro, as faria aparecer e nós não sofreríamos agora, trabalhando e fazendo roça. Mas o acutipuru meteu-se no meio; e o resultado, já se sabe, foi estragar as frutas que nos deviam ser oferecidas amavelmente, com o tempo. Assim foi que se inutilizou o nosso destino e principiaram os nossos trabalhos. Tal e qual como no caso de Adão e Eva. (Resumo de lenda do livro Estórias e lendas da Amazônia, Anísio Melo, SP, 1962); Nota - Acutipuru, Quati-puru, Caxinguelê e Serepele são os nomes de diferentes espécies de esquilos brasileiros. Curiosamente, a fruta mais apreciada pelos esquilos é a maçã.